terça-feira, 30 de junho de 2009

Garfield


Deixa ser.

"De repente tudo muda. Aquelas pessoas que achávamos serem nossas amigas não nos ligam mais, não mandam cartas, não enviam aqueles e-mails chatos com figurinhas chatas e musiquinhas irritantes. As pessoas somem. Simplesmente somem. E eu que achava ter muitos amigos, vejo que na minha solidão só há lugar pra mim. Ninguém entende os meus delírios melhor que eu. Ninguém sabe do meu mundo melhor que eu. As pessoas tornaram-se descartáveis.
Às vezes, as pessoas se resumem a uns dois ou três copos de cerveja, mas cerveja bem gelada. Porque assim que a bebida esquenta, elas somem. Simplesmente somem. E assim é a vida."


Let it be..

Carne, osso, alma e sentimento.
Tudo isso ao mesmo tempo!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Caio Fernando Abreu. Adoro =)

"Vai passar,tu sabes que vai passar.Talvez não amanhã,mas dentro de uma semana, um mês ou dois,quem sabe?O verão está aí,haverá sol quase todos os dias,e sempre resta essa coisa chamada¨impulso vital¨.Pois esse impulso ás vezes cruel,porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo,te empurrará quem sabe para o sol,para o mar,para uma nova estrada qualquer e,de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ¨estou contente outra vez¨.

"E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho - e posso estar enganado - que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente."


"É uma coisa que me dói muito, esses seus silêncios. Sei - claro - que você deve ter problemas bastante sérios, mas uma carta de vez em quando não custa nada e, às vezes - quem sabe? Talvez a gente pudesse ajudar. Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios. A sensação que tenho é que você simplesmente não está muito afim - e cada vez que tomo a iniciativa de escrever é sempre meio tolhido, sem naturalidade, com medo de incomodar, de ser indesejável. Não é uma coisa agradável. Seja como for, continuo gostando muito de você - da mesma forma -, você está quase sempre perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade. E se é verdade que o tempo não volta, também deveria ser verdade que os amigos não se perdem."


(...) "seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós,a gente, as pessoas, têm, temos - emoções. Meditarias: as pessoas falam coisas,e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que sãoe nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis,fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumpreme sobretudo, como dizias, emoções. (...), mas já não sou capaz de me calar, talvez dirás então, descontrolado e um pouco mais dramático, porque meu silêncio já nãoé uma omissão, mas uma mentira".

Frases de Carlos Drummond

"Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. "

"Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às moda e compromissos. "

"Minha poesia é cheia de imperfeições. Se eu fosse crítico, apontaria muitos defeitos. Não vou apontar. Deixo para os outros. Minha obra é pública."

"O problema não é inventar. É ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente."

"Eu acredito que a poesia tenha sido uma vocação, embora não tenha sido uma vocação desenvolvida conscientemente ou intencionalmente. Minha motivação foi esta: tentar resolver, através de versos, problemas existenciais internos. São problemas de angústia, incompreensão e inadaptação ao mundo".

"Não tenho a menor pretensão de ser eterno. Pelo contrário: tenho a impressão de que daqui a vinte anos eu já estarei no Cemitério de São João Baptista. Ninguém vai falar de mim, graças a Deus. O que eu quero é paz".

Poesia Falando de Poesia

Procura da Poesia - Carlos Drummond de Andrade

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
Não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas,
Não é música ouvida de passagem: rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues.
Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.
Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara: ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Te Adoro - Manuel Bandeira (Neologismo)

Te adoro.

Beijo pouco, falo menos ainda.

Mas invento palavras

Que traduzem a ternura mais funda

E mais cotidiana.

Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.

Intransitivo:

Teadoro, Teodora.

Mafalda.


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Glossário: "Dias de sombra, dias de luz"

carnificina:
s. f.
1. Grande matança de pessoas.
2. Chacina, extermínio.

disforme:
adj. 2 gén.
Muito grande; monstruoso; desproporcionado.

antinomia:
s. f.
Contradição entre leis (e, por extensão, entre pessoas ou coisas).

incomensuravelmente:
adj. 2 gén.
1. Que não pode ser medido.
2. Fig. Imenso, enorme; sem limites conhecidos.
3. Geom. Diz-se de duas grandezas que não têm medida comum

dirimir:
v. tr.
1. Anular irremediavelmente.
2. Impedir absolutamente.
3. Extinguir.
4. Decidir de modo terminante.

algoz:
s. m.
1. Designação oficial do carrasco.
2. Fig. Verdugo, homem cruel.

Projeto Nurc

É um Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta. ;)

Historico:


Juan Lope Blanch, professor da Universidade Nacional Autônoma do México, foi o autor da proposta de organização de um grande projeto coletivo, a fim de descrever a norma culta no espanhol falado. A proposta foi apresentada durante o II Simpósio do PILEI (Programa Interamericano de Lingüística e Ensino de Idiomas), em agosto de 1964, em Bloomington, nos Estados Unidos da América. Assim nascia o "Proyeto de Estudio Coordinado de la Norma Lingüística Culta de las Principales Ciudades de Iberoamérica y de Península Ibérica".
Desde o início, já se pensava em estender o "Proyeto" às comunidades de língua portuguesa. Em janeiro de 1968, por ocasião do IV Simpósio do PILEI no México, o Prof. Nélson Rossi, da Universidade Federal da Bahia, apresentou o trabalho "O Projeto de Estudo da Fala Culta e sua Execução no Domínio da Língua Portuguesa". Nesse estudo, o Prof. Nélson Rossi ressaltou que, diferente dos países de língua espanhola, no Brasil, o "Proyeto" não poderia limitar-se à capital do país nem ao Rio de Janeiro. Ele sugeriu que o "Proyeto" abrangesse as cinco principais capitais com mais de um milhão de habitantes: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Em janeiro de 1969, durante o III Instituto Interamericano de Lingüística, promovido em São Paulo pelo PILEI, foi instalado o "Proyeto" no Brasil. Foi acertado que, para se instalar esse projeto, haveria necessidade de se escolherem os responsáveis pelo trabalho em cada uma das cinco cidades.
O projeto previa três etapas: gravações, transcrição e análise do corpus, conforme um Guia-Questionário. Inicialmente, eram previstas 400 horas de gravação, selecionando-se 600 informantes (300 do sexo masculino e 300 do sexo feminino) com nível superior de escolaridade, nascidos na cidade sob estudo ou residentes aí desde os cinco anos de idade, filhos de nativos de língua portuguesa, de preferência nascidos na cidade sob pesquisa.
Os informantes foram distribuídos em três faixas etárias:
1ª faixa etária: de 25 a 35 anos de idade (30%);
2ª faixa etária:de 36 a 55 anos de idade (45%);
3ª faixa etária:mais de 56 anos de idade (25%).
Quanto à natureza, as gravações foram divididas em quatro tipos:
1º - Gravações secretas de um diálogo espontâneo (GS): 40 horas (10%);
2º - Diálogo entre dois informantes (D2): 160 horas (40%);
3º - Diálogo entre o informante e o documentador (DID): 160 horas (40%);
4º - Elocuções Formais (EF): 40 horas (10%).
No Brasil, as próprias exigências do Projeto, somadas às dificuldades naturais de se fazer pesquisa e os obstáculos para se conseguirem os informantes adequados, fizeram com que houvesse atraso na conclusão das gravações.
Em 1985, durante a XIII Reunião Nacional do Projeto NURC, realizada em Campinas, decidiu-se que as cidades intercambiariam 18 entrevistas de seu acervo com as demais cidades. Esse acervo constituiu-se o que se convencionou chamar corpus compartilhado.

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Lua era eu. (Tico Sta Cruz)

"Hoje vi a lua espetada na antena de um prédio bem alto.
Lá estava ela grudada e olhando para mim com uma cor de sorvete de creme que chegou a me dar água na boca.
Parei a bicicleta e senti que uma brisa levemente fria continuava soprando,brisa de outono. Fechei os olhos e virei o rosto em direção ao cheiro do mar.
Voltei novamente o olhar para o céu e percebi seu semblante angustiado embora estivesse cintilante. Seus grandes cílios não escondiam um pedido velado de ajuda. Ela realmente estava presa na antena daquele edifício.
Olhei ao redor e não vi mais ninguém, ao voltar em sua direção ela sorriu como quem diz: "Me tira daqui?"
Sim, respondi sem imaginar como seria capaz de movê-la apenas com meus braços.
Caminhei solitariamente em direção as grades que cercavam o arranha céu. Um homem armado se aproximou e apontou sua lanterna em minha direção. "O que quer aqui?". Quero apenas ajudar. "Ajudar quem? Não precisamos de ajuda, esta é uma propriedade privada, mantenha distância e se tiver algo para fazer venha durante o dia quando os homens estiverem a postos em seus trabalhos". O senhor não entende? Se não entrar, amanhã não será dia.
Ele deu uma bela gargalhada e pediu que me afastasse pois deveria voltar para seu lugar de vigília e encerrou o assunto com uma ordem bem direta que veio como uma bolinha de papel na ponta do meu nariz. "Vai curtir sua onda em outro lugar rapaz, tenha uma boa noite". Guardou a pistola no coldre e voltou para sua cadeira de balanço. Fiquei tempo suficiente vendo aquele senhor com o rosto iluminado por uma pequena TV dando risadas e comendo um saco de pipocas daquelas que parecem isopor, mas que são de fato uma delícia.
Com a bicicleta dei uma volta na construção e notei que a lua continuava constrangida enganchada sem conseguir prosseguir seu caminho. Talvez tenha feito um movimento errado e se deixado agarrar na pontiaguda estrutura de metal que outrora dialoga com os raios que as nuvens despejam sem piedade quando estão de mau humor.
Disse para ter calma. Iria dar um jeito naquilo antes que o relógio completasse o percurso natural em direção ao amanhecer.
O prédio era todo envolvido por cercas elétricas. Ratos se esgueiravam pelo acostamento da rua embrenhados no lixo que não fora recolhido naquela noite. Havia de tudo que ratos e humanos precisam para se satisfazerem.
Um pouco mais a frente a garagem se abriu e um belo carro luxuoso e com vidros escuros transpassou a área protegida e antes que o portão se fechasse consegui entrar discretamente sem ser percebido pelo homem armado comedor de pipocas.
De fato aquele lugar era uma fortaleza insegura, se fui capaz de invadir sem ser notado, devo agradecer a Tv, a pipoca e ao dono daquele belo automóvel. Minha missão agora era descobrir um caminho até o andar mais alto para tentar então diante do real problema encontrar uma forma de retirar a bela lua de sua armadilha .
Dei alguns passos de forma a conseguir vê-la. Ela sorriu novamente e piscou os olhos em sinal de afeição por minha decisão. "Continue, por favor, preciso sair daqui". Sim, lhe disse. Tenha apenas um pouco de paciência, vou subir os trezentos andares e resgatá-la, tudo bem?
Quando afirmei isso não tinha absolutamente certeza alguma de que seria capaz. Porém fui.
Pelo basculante de um banheiro sujo e com dejetos esquecidos por outro alguém, consegui pisar no chão de mármore branco dos corredores que levavam até o elevador social. Como imaginei. Estavam todos desligados.
O homem continuava se divertindo com a TV e se empanturrando de pipoca. A Lua deveria estar esperando por mim.
Encontrei a entrada para as escadas e agora precisava vencer cada degrau daquele monstro de concreto e aço que me digeria cada lance dos andares percorridos.
Meu objetivo era chegar até a dona lua e para isso não ouvi qualquer incentivo contrário que pudesse brotar das conversas entre as vozes que dialogavam entre minhas orelhas. Diziam que era bobagem minha, impossível, foda-se, eu quero seguir, vou seguir e vou até onde quero ir.
Por volta do vigésimo quinto andar sentei um pouco para descansar. Minhas pernas estavam doloridas.
Não havia água, apenas o silêncio dos extintores de incêndio e das portas cor de planta que bloqueavam a entrada para aquele mundo de papéis e computadores que estavam pouco se lixando para o que acontecia no último andar. Ainda precisava subir duzentos e setenta e cinco compartimentos. Respirei fundo quando ouvi um barulho. Encostei na parede e percebi que eram pequenas asas em movimentos constantes. Um mosquito, pensei, ele veio em minha direção e pousou bem próximo ao meu ouvido. "Quer uma ajuda para chegar lá mais depressa?" Como? Respondi intrigado.
Posso te levar a um elevador que os funcionários desse prédio mantém ligado, o único problema é que ele só vai até o septuagésimo andar, de lá você retorna até as escadas e segue o resto."
É uma oportunidade pensei. Esse mosquito não me parece estranho e afinal de contas, conhece melhor que ninguém todos os espaços desse lugar estranho.
Sim, vou segui-lo. Por onde vamos?
"Sabe este chocolate que esta derretendo no seu bolso?"
Já havia até esquecido dele.
"Pois eu quero pra mim. É o meu preço."
Tudo bem, fique com ele.
"TODOS TEMOS UM PREÇO, nada é de graça bom amigo"
Coloquei o chocolate no corrimão onde ele fez um vôo ligeiro e ficou zanzando de um lado para o outro.
"Deixe-o aqui, vou te levar até onde precisa e depois volto para pegá-lo"
Subiu novamente em uma velocidade difícil de acompanhar e me conduziu até o Trigésimo andar.
"Pode abrir esta porta, não há ninguém ai dentro".
Empurrei com força o bloco de ferro e saímos numa espécie de sala de máquinas. Computadores para todos os lados.
"Aqui eles decidem o que farão de nossos destinos"
Imagino que sim, sussurrei.
"Compram e vendem almas e tem vista para o mar".
Por onde devo ir?
"Siga este corredor até o final, lá encontrará uma porta branca com aviso de permissão apenas para funcionários"
Entendi. Corri por entre as máquinas e sem querer tropecei num fio, derrubando um monitor que fez um estrondo em meio o silêncio daquele necrotério de robôs.
"Siga ele gritou com um barulho agudo em meus ouvidos"
Entrei pela porta branca, apertei o botão e em alguns minutos o elevador me abandonou no local indicado pelo mosquito.

Faltavam ainda alguns bons degraus que fui subindo ora com velocidade, ora com um pouco de cautela para manter energia suficiente até o meu objetivo final.
Por volta do penúltimo andar as luzes do prédio se apagaram.
A escuridão que tomou conta dos meus sentidos me deixou atordoado. Mantive a calma e pensei em como ela deveria estar ansiosa pela minha chegada. Quando minha pupilas se dilataram um pouco e consegui enxergar o suficiente para encontrar a porta do último pavimento, fui surpreendido pelo homem da TV comedor de pipocas.
Sua lanterna me cegou novamente e sua voz dura atingiu meus miolos.
"Você está encrencado"
Escute senhor, não subiria trezentos andares se não fosse por um motivo importante. Espero que entenda que a lua está presa na antena desse prédio, não sei exatamente o que é, e precisa de uma ajuda para que possa seguir seu caminho.
"Você só pode estar brincando comigo. Acredita mesmo que a lua está presa na antena deste prédio? De onde você veio garoto, de marte?"
Escute senhor, não precisa acreditar em mim, apenas abra esta porta e veja com seus próprios olhos.
"Para entrar neste recinto, me refiro ao local de onde você não deveria sequer ter passado dos primeiros andares, é necessário trabalhar para estes homens. Aqui estão autorizados somente funcionários e gente importante, não garotos bobalhões que pensam que podem sair quebrando regras para Rárárá, salvar a lua"
Entendo que exista todo um procedimento para que as pessoas façam parte desse pequeno mundo de máquinas e papéis, de ordens e ordenados. Mas caro senhor, entenda, eu vou tirar a lua desse sufoco, descer e desaparecer da sua vista.
"Olha aqui rapazinho, vou abrir esta porta, se não encontrar lua alguma, você estará muito encrencado"Quando ele empurrou a porta e ficamos de cara com toda a escuridão da noite, olhamos para a antena e não havia absolutamente nada além de fios e outras estruturas que regiam o maquinário do prédio.
"Não lhe disse, você achou realmente que a lua estaria aqui a lhe esperar?"
Mas...
"Tudo bem rapaz, estou de bom humor, pegue o elevador e desça até o primeiro andar junto comigo, vou fingir que nada disso aconteceu ok?"
Mas senhor...
"Veja a lua esta onde sempre esteve, talvez você tenha acreditado demais no que viu de longe".
Meu coração acelerou e senti um frio forte na espinha. Eu subi acreditando que poderia ajudar a lua a se desvencilhar de uma armadilha. Eu tinha certeza de que em seus olhos havia um chamado. Eu subi dezenas de degraus para chegar até aqui, abrir a porta e descobrir que tudo não passou de uma ilusão?
O homem colocou os braços sobre meu ombro e disse.
"Continue acreditando rapaz, apenas entenda que podemos nos enganar com relação algumas escolhas."
Não existe lua nenhuma presa nesse lugar?
"Olhe novamente para o céu"
Quando meus olhos cruzaram o horizonte, ela estava linda e distante, rumando para o fim da madrugada.
"Entende o que quero dizer?"
Não entendo, estou confuso com toda essa história.
"O que vale é o caminho e o que passou para chegar até aqui"
Mas isso não me basta!!!
"Então navegue até o fim do oceano e quem sabe não a encontra na linha do horizonte?"
Não compreendo ainda.
"Quem estava preso a estas antenas era você e não a lua. Precisou subir até o topo para entender que a mentira que nos cerca é mais normal do que se cre"
Acordei suando, peguei o jornal, liguei a TV e tudo continuava exatamente como quando fui dormir a duzentos anos atrás.

A Lua era eu.


Tico Sta Cruz

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Poesia Negra

A treze de maio
Fica decretado
Luto oficial na
Comunidade negra.
E serão vistos
Com maus olhos
Aqueles que comemorarem,
Festivamente,
Esse treze inútil.
E fica o lembrete:
Liberdade se toma
Não se recebe
Dignidade se adquire
Não se concede

terça-feira, 16 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

Hierarquia - Fábula de Millôr Fernandes

Diz que um leão enorme ia andando chateado, não muito rei dos animais, porque tinha acabado de brigar com a mulher e esta lhe dissera poucas e boas.Eis que, subitamente, o leão defronta com um pequeno rato, o ratinho mais menor que ele já tinha visto. Pisou-lhe a cauda e, enquanto o rato forçava inutilmente pra escapar, o leão gritava: "Miserável criatura, estúpida, ínfima, vil, torpe: não conheço na criação nada mais insignificante e nojento. Vou te deixar com vida apenas para que você possa sofrer toda a humilhação do que lhe disse, você, desgraçado, inferior, mesquinho, rato!" E soltou-o .O rato correu o mais que pode, mas, quando já estava a salvo, gritou pro leão: "Será que V. Excelência poderia escrever isso pra mim? Vou me encontrar com uma lesma que eu conheço e quero repetir isso pra ela com as mesmas palavras!"

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Bra.sil

So.mos uma na.ção
So.mos mi.lhões em um só
So.mos um to.do re.su.mi.do
Mis.ci.ge.na.ção!
Mas nos di.vi.dem em “Bra.sil bran.co” e “Ne.gro”.

O “Bra.sil ne.gro”
Mos.tra.do pe.la pro.pa.gan.da só é na Ba.hia.
E o “Bran.co” é o res.to do pa.ís to.do.
En.tão, não exis.tem ne.gros no Rio de Já.nei.ro?