sexta-feira, 26 de junho de 2009

Caio Fernando Abreu. Adoro =)

"Vai passar,tu sabes que vai passar.Talvez não amanhã,mas dentro de uma semana, um mês ou dois,quem sabe?O verão está aí,haverá sol quase todos os dias,e sempre resta essa coisa chamada¨impulso vital¨.Pois esse impulso ás vezes cruel,porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo,te empurrará quem sabe para o sol,para o mar,para uma nova estrada qualquer e,de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ¨estou contente outra vez¨.

"E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho - e posso estar enganado - que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente."


"É uma coisa que me dói muito, esses seus silêncios. Sei - claro - que você deve ter problemas bastante sérios, mas uma carta de vez em quando não custa nada e, às vezes - quem sabe? Talvez a gente pudesse ajudar. Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios. A sensação que tenho é que você simplesmente não está muito afim - e cada vez que tomo a iniciativa de escrever é sempre meio tolhido, sem naturalidade, com medo de incomodar, de ser indesejável. Não é uma coisa agradável. Seja como for, continuo gostando muito de você - da mesma forma -, você está quase sempre perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade. E se é verdade que o tempo não volta, também deveria ser verdade que os amigos não se perdem."


(...) "seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente, insistirás, infelizmente nós,a gente, as pessoas, têm, temos - emoções. Meditarias: as pessoas falam coisas,e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que sãoe nem sempre se mostra. Há os níveis não formulados, camadas imperceptíveis,fantasias que nem sempre controlamos, expectativas que quase nunca se cumpreme sobretudo, como dizias, emoções. (...), mas já não sou capaz de me calar, talvez dirás então, descontrolado e um pouco mais dramático, porque meu silêncio já nãoé uma omissão, mas uma mentira".

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